Apresentação
O Encontro Nacional de Química Ambiental (ENQAmb) teve sua primeira edição em 1990 e, após sua 2a. edição em 2003, vem acontecendo periodicamente, reunindo público dedicado ao desenvolvimento do conhecimento da química ambiental no Brasil. Agora, chegando à décima edição após período desafiador colocado pela pandemia do covid-19, tem como objetivo principal reunir pesquisadores, técnicos e estudantes de setores públicos e privados em um fórum de discussão que aprofunda e divulga questões atuais envolvendo química e meio ambiente, tecnologia e inovação. Por outro lado, o Latin American Symposium on Environmental Analytical Chemistry (LASEAC) é um fórum internacional para discussão dos avanços nas áreas de Química Analítica e Química Ambiental, contribuindo na divulgação e atualização dos avanços das técnicas de amostragem, preparo de amostra, análise de poluentes, avaliação da distribuição dos poluentes no meio ambiente e alimentos. Os simpósios mais recentes ocorreram em 2015 (Equador), 2017 (Colômbia), 2018 (Chile) e 2019 (Brasil), sendo que o último foi em conjunto com o IX ENQAmb em Bento Gonçalves - RS. É importante destacar o aspecto multidisciplinar desses dois eventos envolvendo as áreas de química, engenharia, oceanografia, geociências, saúde pública, meteorologia, toxicologia ambiental e afins. Sendo temas específicos o controle e poluição da água, ar e solo; contaminantes orgânicos persistentes e emergentes; metais pesados e análise de especiação; novas tendências em preparo de amostras; métodos de química analítica verde; análises instrumentais e ambientais; biosensores e eletroanálises; ecotoxicologia; quimiometria; biotecnologia ambiental e remediação; regulamentos sobre controle de poluição ambiental e mudanças climáticas globais, desde aspectos da poluição do ar, gases de efeito estufa e espécies destruidoras da camada de ozônio.
No período da pandemia de covid-19 a realização de evento científicos presenciais ficou interrompida, e agora estamos organizando mais uma vez para que se realizem conjuntamente esses dois importantes eventos, X ENQAmb e XV LASEAC, na histórica cidade de Ouro Preto, Minas Gerais, em março de 2024.
“Existe uma visão errônea de que o Químico Ambiental faz monitoramento de águas, mede a concentração de poluentes, e é aquela a pessoa que aplica diferentes técnicas e equipamentos analíticos para fazer medições em amostras ambientais. Embora o Químico ambiental também possa exercer tais funções, sua atuação deve explorar o uso de dados diversos, inclusive os de monitoramento, para entender os processos naturais, o comportamento de espécies químicas no ambiente, suas vias de dispersão e suas formas de interação com a hidrosfera, a geosfera, a atmosfera e a biosfera. Tudo isso em um ambiente aberto, completamente diferente do ambiente laboratorial, onde todos os processos são controlados e estudados a partir de condições de contorno reducionistas. Com base neste conhecimento mais holístico, é possível fazer um diagnóstico do problema e propor soluções. Em várias situações, a solução envolve a necessidade de remediação e controle”, explica o Prof. Fernando Fabriz Sodré do Instituto de Química, Universidade de Brasília, UnB (https://cfq.org.br/noticia/por-que-o-meio-ambiente-precisa-dos-quimicos/, publicado em 18/11/2020).
No mundo, a química ambiental se destaca a partir das décadas de 1950 e 1960 com o início dos estudos da ocorrência de compostos em função da atividade humana interferindo no meio ambiente. Diferentes compostos surgem com o uso de pesticidas, produtos de limpeza, detergentes, poliéster, borracha sintética, baterias de automóveis, pigmentos e outros, tanto por atividades industriais, agropecuária, transporte e até mesmo nas residências. Já na década de 1970, a química ambiental passa por novos desafios, englobando o estudo do comportamento de compostos químicos na água, solo, atmosfera e sistemas biológicos, com destaque para o entendimento dos ciclos biogeoquímicos, envolvendo questões relacionadas à saúde ambiental e humana. Em seguida surgem e se destacam as questões globais envolvendo mudanças climáticas globais e a destruição da camada de ozônio. Diante de desafios globais, nas últimas décadas do século 20, a grave degradação ambiental une cientistas de diversas áreas com a missão da redação de uma carta sobre o desenvolvimento sustentável. Tendo o Brasil papel de destaque durante a Cúpula da Terra (ECO-92, RJ), no chamado Fórum Global, onde foi redigida a primeira versão da Carta da Terra (Gadotti, 2010), destacando-se em seu texto:
“...responsabilidade compartilhada de proteger e restaurar a Terra para permitir o uso sábio e equitativo dos recursos naturais, assim como realizar o equilíbrio ecológico e novos valores sociais, econômicos e espirituais.”
Nesse ambiente, os aspectos formais do ensino de Química Ambiental no ensino de graduação surgem no Brasil a partir da década de 1980, contribuindo para a formação também de novos pesquisadores. E assim fortalecendo com maior divulgação e entrosamento entre os diferentes níveis de pesquisas em Química Ambiental no Brasil, acontece o 1º. Encontro Nacional de Química Ambiental (ENQAmb), em 1990. Desde então ocorreram nove encontros, sendo destaque os temas de algumas das edições:
III ENQAmb - “Química ambiental – um caminho encantado entre a Química e a Biologia”, Rio de Janeiro, RJ, 21 a 24 de março de 2006. Aconteceram 4 palestras, além da conferência de abertura, 2 Oficinas, 2 mesas redondas, 198 trabalhos nas Sessões de Pôsteres e 3 minicursos
IV ENQAmb – “Água, energia, alimentos: desafios de sustentabilidade para um mundo em mudanças”, Aracaju, SE, 11 a 14 de março de 2008.
V ENQAmb - “Meio ambiente: uma química de interfaces”, Estância de São Pedro/SP, 14 a 17 de março de 2010. Nessa edição do ENQAmb aconteceram 19 conferências plenárias, 06 palestras técnicas, 18 trabalhos nas Sessões Coordenadas, 143 trabalhos nas Sessões de Pôsteres e 3 minicursos, com cerca de 200 participantes vindos de diferentes regiões do Brasil e de outras partes do mundo.
VIII ENQAmb - “O químico e os desafios ambientais na sociedade atual”, Curitiba, PR, 03 a 06 de outubro de 2017.
IX ENQAmb, Bento Gonçalves, RS, 06 a 08 de novembro de 2019. Destaca-se que esse evento ocorreu em conjunto com o XIV Latin American Symposium on Environmental Analytical Chemistry (XIV LASEAC) e o XII Workshop em Avanços Recentes no Preparo de Amostras (WARPA).
Após grave crise da pandemia da Covid-19 que por mais de dois anos comprometeu a realização de atividades coletivas presenciais, conseguiu-se estruturar o X ENQAmb + XV LASEAC para acontecer em Ouro Preto, MG, entre 18 e 21 de setembro de 2023. Assim o tema “Panorama ambiental: retrocessos, avanços e perspectivas” buscará além dos avanços científicos trazer uma discussão mais crítica e contextualizada em um mundo em profunda crise ambiental pós-pandemia. Destacando-se ao longo desses últimos anos em especial as tragédias ocorridas em minas Gerais com os desastres de Mariana e Brumadinho que além do custo ambiental inestimável, provocaram a perda de mais de 300 vidas humanas. Também o “óleo misterioso” surgido nas praias do nordeste brasileiro a partir de agosto de 2019, atingindo mais de 2500 km de costa com custos econômicos e ambientais ainda não totalmente avaliados. Além disso, o uso desenfreado do mercúrio nos garimpos de ouro, principalmente da Amazônia, que vem causando danos inestimáveis à saúde da população ribeirinha.
A Química Analítica é fundamental no monitoramento ambiental e estudos de interação química nos diferentes ecossistemas, buscando soluções para a caracterização e quantificação de compostos muitas vezes em níveis baixíssimos presentes em matrizes complexas ou mesmo associadas com a biota. Neste sentido essa nova edição da realização em conjunta do ENQAmb e do LASEAC amplia o leque de discussão entre seus participantes, possibilitando que o ENQAmb amadureça como fórum internacional para discussão dos avanços nas áreas de Química Ambiental e Analítica Aplicada, contribuindo na divulgação e atualização dos avanços das técnicas de amostragem, preparo de amostra, análise de poluentes, avaliação da distribuição dos poluentes no meio ambiente, alimentos e biota.